Histórias e Lendas

A Lenda de Maní

O cacique da tribo tupi tinha uma filha encantadora. Essa linda menina, de repente, surgiu grávida mesmo sem sequer ter tido contato com qualquer um dos guerreiros da tribo, o que deixou seu pai perplexo.

Foi num sonho que toda essa perplexidade se desfez: Tupã, o deus criador segundo as tradições indígenas, apareceu para ele dizendo que o bebê que a menina carregava no ventre seria um presente dele próprio. Meses depois, a menina deu à luz a uma indiazinha branca como a neve e que, de tão encantadora, arrancava suspiros e sorrisos por onde passava.

A bebezinha se desenvolveu muito rapidamente. Com poucos dias já conseguia andar e conversar, e assim corria pelas matas alegremente dia após dia. Seu nome era Maní e ela era tratada como um verdadeiro tesouro por todos da tribo. Um dia, para grande tristeza da tribo e sem qualquer explicação, ela foi encontrada desfalecida. O avô decidiu enterrá-la conforme as tradições, numa cova ao centro da oca onde a família habitava. Todos os dias, a jovem mãe chorava e suas lágrimas regavam o local onde repousava o corpo de Maní.

Semanas depois, brotou uma planta diferente de todas as que conheciam. E todos os índios a regavam com a água mais pura da aldeia a pedido do saudoso avô. Tempos depois, a divina planta fez abrir uma fenda no solo, permitindo aos índios que vissem suas raízes grossas. Um deles tomou uma dessas raízes e por descuido deixou-a cair ao chão. Ela se partiu e seu interior se revelou tão branco como a pele de Maní.

Acreditando se tratar de uma reencarnação da pequena índia noutra forma, resolveram fazer com as raízes um grande banquete onde todos se fartaram para que pudessem carregar dentro de si uma parte de Maní. Do que sobrou das raízes, ralaram e fizeram uma bebida fermentada chamada de Cauim – até hoje admirada pelos povos indígenas do Brasil.  Batizaram o vegetal de Mandioca – ou Mani-Oca, “Casa de Maní”, na tradução do Tupi-Guarani.

Felizes pela lembrança que agora morava dentro deles, demoraram a perceber que o caule da planta havia criado novas raízes e estava se transformando em planta outra vez. A partir de então, passaram a ter naquela planta um símbolo de alegria e abundância.

Mitologia

Lendas em que o corpo de deusas e semideusas dá origem a alimentos são comuns em todas as culturas do mundo. A Natureza é a Mãe, em cuja Terra / Ventre ocorre a transformação sagrada da semente em fruto.

Na Mitologia Comparada, nossa Maní seria algo como Perséfone, a deusa virgem dos grãos na Grécia Antiga, cuja descida ao mundo inferior é a representação mítica da semeadura, e seu reaparecimento na primavera significava o despontar do cereal novo.

Outras deusas de cujos corpos nascem alimentos são Uzume, entre os japoneses e Pachamama, entre os incas.

Os Tupis-Guaranis

Muito antes de os europeus chegarem ao nosso continente, nossas terras já eram habitadas por diversas etnias indígenas.

O grupo Tupi-Guarani surgiu do encontro dos nativos da região sul da Amazônia falantes do Tupi, com os habitantes do sul e oeste do continente que falavam Guarani. Esse encontro se deu depois que os Tupis começaram a se deslocar em direção à costa, forçando os diversos grupos de nativos que falavam o Jê a rumar em direção ao interior do Brasil.

Conceição dos Ouros e os Cataguás

Quando os europeus chegaram ao Brasil, os Tupi-Guarani já dominavam a costa e foram o primeiro contato dos colonizadores com os nativos de nosso continente. Os falantes de outras línguas eram por eles chamados de “tapuias” (“selvagens”, ou “os que falam com a língua travada”). Eram os índios do grupo Jê, do qual faziam parte os Cataguás que habitavam a região da Serra da Mantiqueira, incluindo aí Conceição dos Ouros e diversas outras partes do estado de Minas Gerais. Aliás, o primeiro nome das terras mineiras foi “Minas dos Cataguases”. Os Jês tinham grande força física, mas acabaram sucumbindo às armas e às doenças trazidas pelos europeus. Muitas tribos foram forçadas a fugir para o oeste e outras foram dizimadas sem deixar qualquer registro escrito sobre suas culturas e línguas.

A Mandioca e o Polvilho

A mandioca, também conhecida como “aipim” ou “macaxeira” é considerada o pão de cada dia dos povos nativos do Brasil. Por mais que seja também cultivada em alguns países do Sudeste Asiático, da África e da América Central, é inegável que a planta seja originária da região amazônica na América do Sul. Os Tupis-Guaranis foram os responsáveis pelo domínio comestível da mandioca e pela sua difusão ao longo do continente.

Para conseguir usar a raiz como base de sua alimentação, os índios a deixavam de molho por três dias nas águas dos rios para que suas cascas se soltassem. Elas eram então raladas e a massa resultante era espremida para a remoção de todo o líquido, de onde era extraído o polvilho através do processo de decantação. A massa seca era torrada, resultando na farinha de mandioca.

Conceição dos Ouros é a pioneira na comercialização do polvilho e até hoje é a maior produtora de polvilho artesanal em todo o mundo.  Ostenta o título de Capital Nacional do Polvilho desde a década de 1970 e produziu 15 400 000 quilos desse produto no ano de 2008, segundo a Emater. O polvilho começou a ser produzido no local no início do século XX e a maioria da tecnologia criada para essa indústria surgiu ali na cidade. O município é também o maior produtor de mandioca do Estado de Minas Gerais: produz 15 mil toneladas ao ano e possui uma área plantada desta cultura de mais de 405 hectares, segundo o IBGE.